Servidoras da Prodesan têm atuado na manutenção de unidades de ensino da Cidade.
Por Anderson Firmino
Fotos: Vanessa Rodrigues/AT
Filme de maior bilheteria nos últimos tempos, Barbie, da diretora Greta Gerwig, fala da força feminina em diversas áreas de atuação por meio de uma das bonecas mais famosas do mundo. Da capacidade de fazer o que se tem vontade, ou aptidão, mesmo que seja um ofício, ainda tido por muitos, como destinado a homens.
Pois algumas mulheres de Santos têm aproveitado a chance que receberam da vida e, com a mão na massa – ou nos reparos hidráulicos, fiação elétricos e o que pintar –, levam atitude e empoderamento a vários locais de trabalho.
A Prodesan, empresa que presta serviço à Prefeitura, designou um grupo de mulheres para trabalhar na manutenção das Unidades Municipais de Ensino (UME), por meio de contrato firmado com a Secretaria Municipal de Educação (Seduc). Ao todo, são seis entre 49 integrantes. Elas superam qualquer traço de desconfiança com competência e um belo sorriso de quem está, e faz, o que bem entender. No lugar do estranhamento inicial ou descrença, aplausos e reconhecimento.
“Meu pai trabalhava com isso e comecei junto com ele indo para as obras. Fui aprendendo com ele. Depois, já maior, tive a oportunidade de fazer os cursos do Senai na área de Construção Civil para continuar ajudando, fazer a manutenção em casa”, explica a encanadora Gláucia Bunevich, de 38 anos.
Ampliação de conhecimento
Ela atua, atualmente, na UME Porchat de Assis, na Ponta da Praia, e tem todo o apoio da equipe da escola e dos colegas de trabalho, alem do respaldo de quem tem um diploma de Design Industrial.
“O conhecimento de construção de peças me ajuda na montagem dos projetos e estruturação e entendimento de alguma coisa nova, novas tecnologias. Então tudo isso ajuda bastante na questão de manutenção”, explica Gláucia.
Segundo ela, um dos atributos do olhar feminino para o trabalho que realiza está na limpeza, que pode ajudar até na economia de gastos. “Não tem muito desperdício, por conta dessa delicadeza. De uma forma geral, é indicada a troca de peças que apresentam problemas. Mas há casos em que saber desmontar e tentar ajustar alguma coisa faz a diferença. Certa vez, desmontei um acionador de descarga. Passei uma esponja, dei um trato, e foi o suficiente, sendo que ele já estava condenado. A delicadeza e o olhar cuidadoso salvaram uma peça que estava condenada”.
Respeito
Ela trabalha junto com a ajudante geral Vilma Pereira dos Santos, de 42 anos. Após anos de desemprego, driblados por meio da venda de salgados, ela aposta na disposição para o trabalho para dar um novo norte à vida, sem abrir mão de um sorriso.
“Estou adorando, aprendendo a mexer em lâmpada, pintar, o que for preciso. A gente busca conhecer mais a cada dia, mas quero fazer cursos para me aprimorar ainda mais”, conta Vilma, que elogia os colegas de trabalho. “Eu gosto de dar opiniões, e as pessoas sempre respeitam. Dizem: ‘Se você não souber algo, a gente explica’. São muito atenciosos”, analisa.
O olhar brincalhão do marido e dos filhos sobre o ofício não a tira do foco. “Eles acharam meio engraçadinho. Falam: ‘Mãe, a senhora vai trabalhar no meio de um monte de homem’. Para mim, não há problema nisso. Só a mulher tem uma coisa da sensibilidade, um olhar diferente”.
Vaidosas, sim
Esqueça a falsa ideia de que a pessoa que lida com trabalhos braçais não possui vaidade. As duas personagens ouvidas por A Tribuna garantem: têm seus momentos de cuidados pessoais com o único intuito de agradar a si mesmas.
“Eu tenho síndrome de Cinderela (risos). Quando eu me arrumo para sair, ninguém me reconhece. Aqui, eu sou uma Gláucia. Tenho certeza que eu passo, as pessoas têm que me chamar a atenção”, conta Gláucia, acompanhada por Vilma, que vai na mesma linha.
“Pode ser sim, né? Esses dias mesmo eu tirei minha unha, já vou fazer de novo sábado. Que não pode o quê? Lógico que pode. A gente se embeleza toda para a gente mesma, para se sentir bem”, acrescenta.
Nem Gláucia nem Vilma assistiram à película estrelada por Margot Robbie. Mas ambas exercem, na prática, a força de milhões de Barbies que fogem dos estereótipos.