Prodesan S/A

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Das ruas à Prodesan: uma história de superação

Luiz Felipe Monteiro não é exatamente místico, mas passou a acreditar em anjos. Diz que um deles — sem asas, auréola ou o aspecto celestial que se convencionou mostrar nos filmes — acabou mudando sua via. Passados quatro anos, ele deixou as ruas para reconstruir sua história. Hoje, estabelecido, presta serviços de manutenção para a cidade em que nasceu.

Na ocasião do encontro, Felipe já tinha abandonado a casa onde morava e vagava sem rumo pelas vias do Centro. O ‘anjo’, um homem incógnito, alcoólatra e resignado com a longa vivência nas calçadas, iluminou seu caminho. “Perguntei se todo mundo era recuperável”, relembra. “Ele disse que não: somente os que desejam a recuperação”. Ao contrário do que havia escolhido para si, o personagem lhe orientou buscar auxílio na rede de assistência social mantida pela Prefeitura de Santos. “Ali começou minha retomada”.

A passagem citada se deu em 2020. Em razão de desentendimentos constantes com a então esposa pelo fato de estar desempregado, o técnico em eletrônica um dia abriu a porta da frente para nunca mais voltar. “Não tinha família ou aonde ir. Aprendi que a rua machuca”. Ao acatar a sugestão do “sábio”, como ele diz, procurou a Sociedade Amiga dos Pobres Albergue Noturno — entidade parceira da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Seds). O período ‘desalojado’ durou menos de um mês.

ANDANÇAS

As potencialidades do novo abrigado não passaram despercebidas pela direção da instituição. Ele foi contratado como funcionário — uma espécie de ‘faz tudo’ no local. Mas o vínculo uma hora terminou. Ele então foi acolhido no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Dali, no início da pandemia do novo coronavírus, ele foi para o abrigo emergencial Casa de Inverno.

A conselho de uma operadora social — “um outro anjo” —, Felipe foi conhecer o Projeto Fênix, gerido pela Coordenadoria de Desenvolvimento Social (Codeso), cujo objetivo é a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade social em atividades as integrem ao mundo do trabalho. “Aprendi muito por lá, eles nos incentivam o tempo todo. Acreditam na gente”, afirma.

Naquele período, entre 2021 e 2023, o técnico em eletrônica prestou pequenos serviços para o Centro de Referência Especializada da Assistência Social (Creas) e a Prefeitura Regional dos Morros. Mas faltava o emprego fixo. “Disposição eu sempre tive”. A equipe do Fênix o incentivou a prestar um concurso na Prodesan. Ele fez e, no início deste ano, seu nome despontou na lista de aprovados.

Um fato inusitado: Luiz Felipe soube do resultado hospitalizado. Em abril, ele havia passado por um tratamento cirúrgico. Quando recebeu a alta, foi atropelado por uma moto na saída do complexo hospitalar. Voltou para a unidade com escoriações e os dentes dianteiros quebrados. “Mas voltei a sorrir!”, brinca. Em tempo: um tratamento na rede municipal de saúde concluiu a reconstituição de sua arcada dentária nesta semana.

TRÊS FRASES

Atualmente Felipe é auxiliar operacional no Departamento de Apoio à Limpeza Pública (Deap), registrado com carteira assinada, e trabalha…na ruas. Mora em uma casa alugada no Morro da Nova Cintra e se diz feliz como nunca. “Aprendi que existem três frases que mudam a vida: ‘eu te amo’, ‘me perdoe’ e ‘preciso de ajuda’. Com isso na cabeça, tudo tem jeito”. Os anjos devem concordar.